Aprenda a defesa Grünfeld!
Olá a todos!
Estamos de volta com mais um artigo sobre os dilemas de aberturas, dessa vez tratando de uma das defesas mais perigosas para se enfrentar contra 1.d4 - a Grunfeld!
A defesa leva esse nome por causa do austríaco Ernst Grunfeld, que a utilizou no começo do século passado em algumas ocasiões, inclusive para derrotar o grande Alexander Alekhine nessa partida em 1922:
Fiz um vídeo introdutório com as ideias gerais, alguns trechos de partidas minhas e jogadores referência dessa defesa, como vocês já estão acostumados. Confiram:
E em seguida, temos algumas partidas com análises minhas a serem estudadas por vocês:
Razvan-Gabriel Iagar (2013) x KSM (2490), 2010
- Essa partida é muito importante pois mostra como as pretas já buscam a iniciativa se as brancas utilizarem o método mais tradicional de desenvolvimento com o peão dama (1.d4 2.c4 3.Cc3 4.Cf3 5.e3). Rapidamente com ...c5, as pretas já levantam uma questão para as brancas: permitir a captura ...cxd4, o que possivelmente isolaria o peão de d4, ou jogar dxc5, que é o que acontece na partida. As pretas buscam então liquidar o centro com ...dxc4! atingindo uma posição simétrica quanto aos peões, mas o bispo de g7 é muito mais forte que o seu adversário correspondente em c1.
- Ainda mantendo a mesma linha de raciocínio, vemos outro caso em que as brancas jogam um esquema comum (no caso, o Sistema London com c4), e logo caem em posição inferior, por causa da criação do peão isolado em d4, citado no comentário da partida anterior. Esse é um tipo de posição importante para entender - a criação do peão isolado das brancas praticamente sempre é ideal para as pretas, pois com o bispo já em g7, o peão de d4 é um alvo de ataque direto e não há possibilidades de ataque contra o rei preto (o que acontece em posições de peão isolado tradicionais).
- Agora temos um exemplo da variante principal e mais antiga, quando as brancas jogam Bc4 e Ce2, na variante das trocas (cxd5 seguido de e4 logo no começo). Nessa partida, eu utilizei um plano de uma partida Kamsky - Van Wely onde as pretas conseguem uma espécie de ataque no estilo Índia do rei expandido os peões da ala do rei, ao mesmo tempo que consegue controlar bem as atividades no centro e na ala da dama. Nas duas partidas, o branco fica paralisado e o preto consegue montar um ataque gradual e decisivo!
- Outro exemplo bom na variante das trocas, dessa vez quando as brancas jogam com Bd2 (para retomar o cavalo de bispo em c3). O momento mais interessante é o lance 8...Cc6! provocando o avanço das brancas com 9.d5 para que as pretas consigam jogar ...c6 depois. Mais adiante, as pretas conseguem dinamizar ainda mais com 15...f6, sem deixar as brancas fazerem o roque em paz. Finalmente quando as brancas rocam, as pretas já conseguem uma vantagem material decisiva.
- Voltando um pouco às variantes onde o branco não troca em d5, essa partida é outro exemplo muito bom de iniciativa - as pretas entregam dois peões para dificultar o roque das brancas e colocar todas as peças em jogo. Apesar de visualmente sólida, a posição das brancas é bem difícil, e por causa de um erro do adversário, as pretas conseguem ganhar uma peça no lance 23, e mais adiante, a partida.
- Essa partida traz um conceito bem importante da Grunfeld, o sacrifício de peão na ala da dama para abrir linhas para as pretas. É possível ver que após o lance 15...Cc4, a compensação das pretas é nítida - os peões de c3 e a2 são fracos e todas as peças pretas conseguiram muita liberdade. A casa de c4 é sempre muito importante para as pretas nessa estrutura da variante das trocas. A conclusão é que as pretas podem muitas vezes sacrificar um peão para buscar essa estrutura - peões de 'a' e 'c' brancos, contra o peão de 'a' das pretas (às vezes pode ser o peão de 'b6' também). Na época, isso não era conhecido, e o nosso grande jogador do passado, Antonio Rocha, não teve chances depois desse erro estratégico.
- Essa partida mostra as vantagens da Grunfeld a longo prazo, após conseguir neutralizar a iniciativa das brancas, com o forte peão passado de d5, as pretas lentamente vão conquistando algumas vantagens também - vale a pena parar pra entender o momento depois de 15.Bd2 b6, que as brancas não capturam o cavalo de a5. Depois de 16.Bxa5 bxa5, as pretas teriam excelente posição por causa do par de bispos e as casas fracas pretas, apesar da estrutura de peões enfraquecida. Outro momento é o sangue frio com 27...Td7! e a tomada em c6 apenas na hora certa, logo ganhando esse peão (32...Txc6) e em seguida, a partida.