Saudações queridos e queridas!
Chegou a vez de falarmos da abertura Ruy Lopez (ou Espanhola), uma das aberturas mais antigas do xadrez! O nome foi dado em homenagem ao padre espanhol Ruy Lopez de Segura, que fez um estudo sobre essa abertura em 1561 em sua obra Libro de la invención liberal y arte del juego del ajedrez. Essa abertura começou a ser utilizada no começo do século 19 e até hoje é praticada por jogadores de todos os níveis. Por ser tão antiga e estudada, a quantidade de teoria e de posições típicas é quase infinita. Minha ideia nesse artigo é trazer alguns temas estratégicos, com o enfoque no sucesso das brancas (ou seja, teremos uma segunda parte mais pra frente, para falar do lado das pretas!).
Antes de mais nada, vamos ao vídeo introdutório com ideias gerais:
Escolhi apenas posições da linha principal da Ruy Lopez, que começa na seguinte posição:
Hoje em dia, as pretas tem inúmeras alternativas jogáveis que eu mostro rapidamente no vídeo, a partir do terceiro lance, após 3.Bb5. Foquei na lihna principal nesse artigo, pois acredito que é possível aprender muitos temas e planos que são típicos em outras posições e são obrigatórios para todo enxadrista que busca estudar e ampliar seu conhecimento.
Partida 1: Começaremos com uma partida do começo do século 20 que mostra bem o potencial de ataque que as brancas podem ter na ala do rei.
Partida 2: Aqui vemos um tema posicional muito típico da Ruy Lopez - as brancas acabaram de jogar 17.Bd2 e podem jogar c4 atacando o cavalo de a5 no momento oportuno, para ganhar um peão. As pretas evitam com o lance 17...Cb7 e agora vem o importantíssimo 18.b4!! que limita o cavalo de b7 pra sempre. Repare que a casa de c4 é fraca, mas não há maneira das pretas dominarem essa casa com um cavalo.
Partida 3: Outro tema que será recorrente é a fraqueza do peão em b5. Prestem muita atenção nisso, porque esse peão fraco aparece em várias aberturas e defesas diferentes. Nessa posição, Gligoric jogou o importante 20.b4! e ofereceu duas opções para as pretas: 20...axb3, colocando o cavalo branco em uma casa boa em b3, ou permitir que o peão em b5 seja uma fraqueza. Repare que até o fim do jogo, as pretas se defendem e ficam passivas por causa desse peão fraco.
Partida 4:
Esse é um dos planos que eu mais gostava de estudar quando era garoto e tinha vontade de aplicar nas minhas partidas.. consegui fazer isso poucas vezes, mas deu certo! Nessa posição, as brancas lembram da importante regra de que um ataque na ala costuma funcionar quando o centro está fechado, e não perdem a chance com o corajoso 15.g4! seguido de 16.Cg3 e 17.Rh1 e 18.Tg1, todos lances temáticos. Conseguem exercer grande pressão na ala do rei, e depois conquistam vantagens estratégicas para ganhar o final.
Partida 5: Aqui temos um exemplo tipico da estrutura de peões quando as pretas fazem todas as trocas de peões em d4. Na posição inicial, o lance 16.b3 é importante, colocando o bispo em uma excelente diagonal e aumentando a pressão em e5. Após 16...exd4, que é uma imprecisão, as brancas centralizam o cavalo, deixam o peão em d6 isolado e terão ideias de Cdf5 (como acontece no lance 19) e de novo utilizam a ideia de limitar o cavalo com o fino 23.b4!!
Partida 7 - Outro exemplo muito bom de ataque, lembrando um pouco a primeira partida do artigo. Após alguns lances descuidados das pretas (era necessário jogar 19...g6!), as brancas sacrificam o bispo de casas brancas e combinam a invasão do cavalo com ameaças de mate com a dama 23.Df3! com ideia de Df7 e também de Dh3-Dh7#
Partida 8 - Nessa partida, temos outra estrutura comum - as brancas jogam o lance 16.d5 (em posições que as pretas não mexeram o peão de 'c' ainda) e depois reforçam o centro forte com o lance 18.c4!, que é um lance bem importante. Caso as brancas fossem obrigadas a capturar o peão de c6, as pretas teriam um jogo livre. Destaque para o lance fino 25.Bd3! invadindo aos poucos a ala dama, mesmo entregando o par de bispos. No fim, o par de cavalos domina o par de bispos, com boa vitória branca.
Partida 9 -
Não há como falar de Ruy Lopez sem mencionar o grande Bobby Fischer! apesar de termos apenas uma partida dele nesse artigo, vemos uma condução cristalina de brancas com o lance 17.d5! e depois 18.b4!, seguindo com o fechamento da ala da dama (20.a5), para direcionar todas as forças na ala do rei, com a calma ruptura de 30.h4! Fischer que era conhecido por suas partidas de ataque, tinha um refinamento posicional impressionante e nessa partida vemos mais um exemplo disso.
Partida 10:
Para terminar, o grande Anatoly Karpov ganha convincentemente essa partida de brancas, com um plano que ficou muito famoso, começando com 24.Ba7!! para tampar a coluna e preparar a dobra de torres na coluna 'a'. Qual seria o nome desse tema super criativo? Repare que o bispo fica em a7 até o fim da partida enquanto as brancas sufocam as pretas na ala do rei.
Não esquece de deixar os seus comentários abaixo! Mês que vem eu volto com a parte 2 da Ruy Lopez, dessa vez com o ponto de vista das pretas. Um bom começo de ano a todos!