As crônicas até a METADE do Campeonato Mundial de Xadrez!
O Campeonato Mundial de Xadrez está a todo vapor, transmitido ao vivo com os talentos Krikor Mekhitarian e Flor Fernández às 6h da manhã no canal Chess24 em Português.
Em Singapura, Ding e Gukesh se enfrentam pelo título-máximo do xadrez, ocupando o lugar mais alto do meio enxadrístico. Gukesh busca se tornar o campeão mundial mais novo de todos os tempos, aos 18 anos - seria o 18º Campeão de todos os tempos. Já Ding busca afastar suas sombras, consolidar seu título e acabar com quaisquer eventuais dúvidas.
O match, que está indo à oitava rodada no dia 04/12, está recheado de emoção e luta. Até a metade, tivemos cinco empates e dois resultados decisivos, um para cada lado. Apesar disso parecer morno se comparado aos muitos decisivos do match anterior (Nepo-Ding), as partidas estão muito lutadas e difíceis, e ambos têm mérito.
Meu nome é Caio e, dentre outras coisas, escrevo crônicas sobre esse evento. Decidi compilar todas aqui (todas de uma vez) por pura e simples preguiça 
Você confere as crônicas também nas redes sociais do ChesscomPT (Chess.com em Português).
CRÔNICA DO JOGO 1 DO CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ
ACABOU! (a primeira rodada)
Ding Liren, de pretas, em 42 lances.
Ele escolhe a defesa francesa, e a defesa francesa escolhe Ding Liren.
Desacreditado. Em declínio de rating. Jogando de pretas. Começou pensando muito já no lance 7, onde ele decidiu por uma ideia relativamente nova, o a5-a4. Ding sofreu, suou. A primeira partida do Mundial tinha tudo para a história ser em favor da Índia.
Mas a beleza de contar histórias, e a beleza do xadrez, triunfa sobre hipóteses, sobre estatísticas, sobre apostas.
Gukesh tinha CINQUENTA MINUTOS de vantagem no relógio no lance 14. Parecia que Ding iria para um apuro impossível, nesse formato de Mundial que tanto pune quem não gerir o tempo corretamente.
Mas o xadrez, com sua deusa Caíssa, tem planos diferentes. Com um jogo posicional irrepreensível e brilhante, Ding pressionou Gukesh, que começou a caminhar logo que percebeu que não era tão simples a posição. Ding não errava. Gukesh titubeava.
A vantagem de tempo derreteu após Gukesh pensar por mais de 30 minutos em lances críticos, e não encontrar o que precisava. No final, o peão de A - que Ding tanto pensou no lance 5 - venceu a partida.
Ding Liren vence a primeira partida do Campeonato Mundial de Xadrez 2024! Inesperado, dramático, lindo. Esse é nosso jogo.
Amanhã temos xadrez novamente. 6h da manhã. No Chess24 em Português - YouTube e Twitch. Esperamos vocês. Foi só o primeiro round. 1-0 para o campeão mundial. O jovem de 18 anos terá a força para virar?
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CRÔNICA DO JOGO 2 DO CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ
Nem todo dia teremos fogos de artifício.
Se ontem foi um dia recheado de emoções, mãos no rosto de Gukesh e sorrisos de Ding com sua família, hoje a rodada foi menos emocionante. Ding optou pela abertura italiana, variante Giuoco Pianissimo, que tem seu veneno; e logo no lance 9, o campeão mundial optou por um plano de a4 (seguido de a5), novidade teórica, levando Gukesh a pensar bastante.
O que pareceu é que Ding estava preparadíssimo. Afiado. Em forma.
O cenário de hoje foi o inverso de ontem: Gukesh pensou muito na abertura, possivelmente surpreendido pela excelente preparação de Ding, e levou o jogo a rumos cheios de espinhos. Ding, com vantagem no tempo, precisou pensar também logo depois.
Com lances precisos, o jogo foi desenhando para um empate. Ding ainda tentou algum veneno com lances diferentes, como um Tdc1 "escondendo" a torre atrás do peão -- que parece, à primeira vista, um lance bem esquisito, mas tem suas perigosas armadilhas e ideias -- mas Gukesh respondeu muito bem e foi capaz de segurar Ding Liren, empatando com 23 lances.
Após uma primeira rodada cheia de emoções para os fãs, hoje a rodada foi mais madura, mais recatada. Gukesh precisa desequilibrar e precisa vencer eventualmente. Pode ser na partida 3, ou não: ele tem 12 jogos para tentar a vitória. Vamos ver como o jovem de 18 anos vai reagir nesse cenário.
Por hoje, a poeira baixa com relativa paz. 1,5-0,5 no Campeonato Mundial de Xadrez. Amanhã, 6 da manhã, temos a terceira rodada. Chess24 em Português, YouTube e Twitch.
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CRÔNICA DO JOGO 3 DO CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ
Um erro.
Não importa quantos acertos você faça, basta um erro.
Ding Liren pensou muito -- novamente -- na abertura e entrou numa variante arriscada dentro do Gambito da Dama Recusado; pensou mais ainda para achar uma sequência incrível, que deixou nossos comentaristas boquiabertos.
Com a mística do Campeão Mundial na melhor fase, ele pressionou Gukesh e parecia que poderia arrancar talvez mais um ponto. Uma hora a menos no relógio, mas uma posição melhor.
Mas basta um erro. E esse erro foi gravíssimo. Uma imprecisão no cálculo de Ding, com um Th5 que parecia jogável, foi tudo o que Gukesh precisou para tomar novamente as rédeas da partida. O indiano parecia ter visto tudo lá na frente; como num filme, onde os jogadores calculam com perfeição o tempo todo, Gukesh fez quatro lances excelentes em sequência. Rápido. Confiante.
Ding quebrou na pressão do seu lance errado e partiu para uma sequência que não era ótima; a partir daí, foi ladeira abaixo. Apuradíssimo no tempo, com menos de 2 minutos para 9 lances, o tempo de Ding acabou. Dramático, poético, incisivo.
18 anos de idade. Gukesh assume os riscos, joga para vencer, e joga gasolina no match. Um erro de Ding. Uma vitória para Gukesh.
No xadrez, nem os campeões mundiais estão isentos da dor de fazer vários lances perfeitos, e sucumbirem para um momento de imprecisão. E foi o que houve hoje.
Amanhã teremos dia livre. Dia para Ding tentar se recuperar de seu erro. Dia para Gukesh tentar se afirmar e pensar como abrir vantagem. Voltamos na sexta-feira, seis horas da manhã, no Chess24 em Português.
O match tá só começando. Você não pode perder.
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CRÔNICA DO JOGO 4 DO CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ
Tempo ao tempo.
Gukesh começou o Campeonato Mundial de Xadrez com uma dolorosa derrota. Com resiliência, brilhantismo tático e muita luta, se recuperou e venceu o terceiro jogo.
Ding Liren, por sua vez, começou com o pé direito, mas sofreu um golpe na terceira partida: uma derrota no tempo e na posição, sem esperanças.
O dia livre foi uma chance de dar tempo ao tempo, esfriar a cabeça e os ânimos, e pensar como consolidar vantagens. No dia de hoje, quarta rodada, o espírito de paz vindo do dia livre imperou nessa rodada do Campeonato Mundial de Xadrez.
Ding abriu com a Réti, numa variante hipermoderna do xadrez -- que não controla o centro com peões -- e foi para um plano diferentão já no lance 5, com um bispo a3. Gukesh, mostrando mais uma vez excelente preparação, encontrou as melhores respostas, igualou o jogo e se segurou.
Os jogadores não tiveram apuro, não houve erros, nada disso. Trocaram todas as peças com alguma velocidade e antes das 9h30 da manhã já estávamos indo tomar o café sem culpa.
Mais uma vez, Ding não consegue encaixar um jogo impressionante de brancas, mas há que se concordar que o Dragão Chinês está tentando, com muitas novidades teóricas e ideias diferentes. Já Gukesh é irrepreensível na preparação, mostrando que dará trabalho até a rodada final.
Hoje, demos tempo ao tempo. Tempo para que os dois gênios consigam criar obras de arte no tabuleiro. Tempo para que recuperem-se de seus fantasmas. Tempo para, enfim, nos aprumarmos em nossas cadeiras e roermos as unhas. Amanhã, 6 da manhã, estamos de volta: Chess24 em Português YouTube e Twitch.
Nada está decidido; pelo contrário, temos um empate -- na rodada e no placar. Quem vai desequilibrar?
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CRÔNICA DO JOGO 5 DO CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ
Ele teve uma chance.
O Campeonato Mundial de Xadrez é um torneio dificílimo. Há poucos momentos de desequilíbrio. Há poucos erros, há pouco espaço de manobra. São jogadores preparadíssimos. Há dois milhões e meio de dólares em jogo.
Por isso, cada uma das menores chances precisa ser aproveitada. E hoje, um dos jogadores teve uma pequena brecha. Mas...
Gukesh jogou com confiança. Até demais. Tentando desequilibrar. Contudo, a abertura, uma francesa das trocas, foi boa para Ding Liren, e eventualmente uma captura errada de Gukesh -- com ajuda de um pouco de análise -- deu uma abertura para o Dragão Chinês.
Mas nesse cenário, Ding, com um peão a mais, optou por jogar defensivamente. Na paz. Uma decisão difícil de ser entendida. Não sabemos se faltou confiança, se houve uma imprecisão no cálculo, ou se Ding simplesmente preferiu a segurança do empate jogando de pretas.
Ding não ficou ganho em nenhum momento, não era uma posição óbvia, sequer fácil. Mas havia uma chance. E, mais uma vez, Ding fica levemente melhor na partida. A preparação de pretas para Ding Liren está dando bem certo.
Mas num campeonato desse nível, empatar rápido após ter uma chance não é um sinal promissor. Alguns jogadores de elite reclamaram da postura de Ding; todos bem surpresos com o empate rápido após essa situação. Melhor para Gukesh, que mais uma vez tem sua confiança recompensada.
Um empate estranho para terminarmos a quinta rodada. Amanhã teremos a sexta, com Ding de brancas. Veremos qual nova história será escrita nas 64 casas. Por enquanto, tudo igual no placar: 2,5 - 2,5.
Seis da manhã deste domingo, no Chess24 em Português.
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CRÔNICA DO JOGO 6 DO CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ
A confiança, a coragem. A mística da 6º partida.
Ding Liren, de brancas, optou por um sistema London muito estudado e preparado. Com o primeiro lance fora da teoria sendo apenas o 16, o Dragão Chinês não precisou gastar tempo, enquanto Gukesh mostrou também conhecer a linha -- embora estivesse um pouco pior no relógio.
De novo, a abertura deu relativamente certo para Ding, que teve uma posição confortável e, de novo, ele tentou jogar de modo seguro. Parecia que havíamos uma repetição bem cedo.
Mas Gukesh disse não.
Confiança.
O Tigre evitou a repetição com um lance que o deixava levemente pior. As chances de vitória de Ding exigiam lances difíceis, mas estavam ali. Por isso, Ding pensou. Gastou tempo. Gukesh, além do empate, também recusou a troca de damas. Ele queria jogo.
E se a coragem vira irresponsabilidade?
No afã de mostrar o seu espírito lutador e confiante, Gukesh acabou entrando numa posição que poderia complicar. Ding encontrava os lances e agora Gukesh era obrigado a pensar. E muito. Mas os lances eram precisos.
A postura de Ding mudou. O histórico da 6ª partida, que foi a mais longa da história de Campeonatos Mundiais (Carlsen-Nepo), prometia uma luta longa.
Até que, num momento crítico, Ding fez um lance aparentemente profilático... E a tensão virou mais uma vez. Gukesh voltou a ter o sonho de uma vitória após a imprecisão do Dragão Chines.
Com os nervos explodindo, remetendo à mística da sexta partida, a precisão era incrível. Mas ninguém parecia tranquilo, só o computador. Só houve um respiro no lance 40: finalmente mais tempo.
E após uma partida em altíssimo nível, muito bem jogada -- ainda que sem brilhantismo --, chegamos ao 4º empate em 6 partidas.
Vamos ao dia livre com algumas certezas: Gukesh tem confiança. Ambos têm xadrez. O match chega à reta final com uma demonstração das qualidades e defeitos de ambos os jogadores: talvez excesso de confiança por um lado e excesso de hesitação por outro.
Voltamos na terça, 6h da manhã.
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CRÔNICA DO JOGO 7 DO CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ
Relâmpagos no tabuleiro na partida mais longa até aqui. Linhas tensas. Difíceis. Que jogo! Chegamos à metade!
A sétima rodada do Campeonato Mundial de Xadrez começou com uma Réti de Gukesh. Ding, então, optou por uma variante da defesa Grünfeld.
O Tigre chegou muito ligado. Cada vez que ele recebia um lance de Ding, suas mãos voavam às peças. Rápido. Confiante. Como um relâmpago, Gukesh fazia rapidamente lances de difícil compreensão. Lances corretos.
Ding pensou muito. Havia mais de uma hora de diferença no relógio em certo momento. Um apuro de tempo se desenhava: Ding precisava fazer 20 lances em 24 minutos, sem acréscimo (o acréscimo é só no 40). O tempo apertava.
E sob imensa pressão, o cálculo de Ding caiu numa captura de peão imprecisa. Era um deja vu: o Dragão Chinês teve seu bispo preso na terceira rodada após capturar um peão, e dessa vez era a Dama que parecia sem lances.
A vantagem oscilou. Gukesh fechou os olhos, em sua habitual meditação, e sentiu que havia algo. Era como se o ar da sala do mundial dissesse: "você pode vencer!".
Mas nem sempre é suficiente.
Numa posição muito crítica, Gukesh tinha tempo, confiança, postura. Ding colocava as mãos na cabeça, mas Gukesh só tinha olhos para as peças. Contudo, a linha era muito difícil e o tempo foi escoando. O Tigre acabou sendo impreciso, numa complicação absurda. Ding mostrou seus recursos. O Dragão também tem garra.
A partida foi longe. Uma luta. Após outro um erro crucial de Ding, no 40, a vitória parecia já ser Gukesh. Mas Ding preparou uma armadilha. Gukesh caiu.
Agora, os relâmpagos no tabuleiro eram causados por Ding Liren, que achou recursos verdadeiramente extraordinários quase ao toque, mostrando que ele não é campeão mundial à toa. Gukesh jogou com 2 segundos.
Foi impressionante demais, lendário. A defesa de Ding, que passou muito perto de perder, se reconstruiu. Havia chance para os dois lados na confusão da posição. Virou blitz. Relâmpagos. A tensão era sentida a milhares de kms. A eletricidade chegou até nós. A resiliência, a força mental de Ding Liren rivalizava o cálculo, a calma e a meditação de Gukesh.
Mas não houve vencedor. Não hoje.
3,5x3,5. Gukesh vai de pretas amanhã. 6 da manhã. Você não pode perder.
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Se leu até aqui, parabéns! Você tá com tempo extra
Não, realmente agradeço. Valeu pela companhia e apareça nas lives! Se leu tudo mesmo, deixa um comentário aqui pr'eu saber
Abraço e até o final do torneio,
Caio
