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A Espantosa Tragédia Argentina do Xadrez

A Espantosa Tragédia Argentina do Xadrez

Silman
| 74 | Diversos

Gothenburg Interzonal (Suécia), em 1955, foi um torneio ronda 'robin' de 21 jogadores e foi disputado de 15 de Agosto a 21 de Setembro desse ano.

O grupo mais poderoso era constituído por jogadores Soviéticos (em nenhuma ordem particular): David Bronstein, Efim Geller, Paul Keres, Tigran Petrosian, Boris Spassky, e Georgy Ilivitsky, este último tinha previamente findado em terceiro lugar por tiebreak no Campeonato Soviético de 1955, meio-ponto atrás de Smyslov e Geller (Geller bateu Smyslov no playoff), mas à frente de Spassky, Petrosian, Botvinnik, Taimanov, Keres, etc.

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Paul Keres via Wikipedia. 

O segundo grupo mais forte era o da Argentina, que na altura era considerada um poderio do xadrez: Oscar Panno, Miguel Najdorf, Herman Pilnik.

Os outros jogadores: Arthur Bisguier, Wolfgang Unzicker, Jan Hein Donner, Carlos Guimard, Bogdan Sliwa, Miroslav Filip, Ludek Pachman, Braslav Rabar, Laszlo Szabo, Andrija Federer, Gideon Sahlberg, e Antonio Angel Medina Garcia. 

Na primeira parte do torneio Keres bateu Panno numa variante da Siciliana Najdorf. Uma vez que todos os três jogadores da Argentina tencionavam utilizar essa abertura de Pretas, eles tiveram pouco tempo para encontrar uma alternativa.

Aqui está a partida de Keres vs. Panno:

Depois deste golpe, e depois dos Argentinos terem percebido que os Russos iriam jogar o novo (e aparentemente muito poderoso) 7.f4 (este tinha sido também jogado pela primeira vez em 1954), eles entenderam que tinham de introduzir também modificações.

No seu dia de repouso eles procuraram desesperadamente por outra linha Najdorf que lhes fosse satisfatória, e quando descobriram que Pilnik tinha experimentado (depois de 7.f4) 7...Be7 8.Df3 h6 9.Bh4 g5 numa partida anterior em 1955 contra Fridrik Olafsson (As Brancas venceram!), os jogadores Argentinos decidiram que conseguiam consertar o que tinha dado errado na partida de Olafsson.

Depois de horas e horas de análise eles partiram confiantes, com a esperança de que alguém caísse na sua armadilha de abertura.

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O que eles não sabiam era que algo extremamente bizarro iria ocorrer, a que foi dado o nome de: A Tragédia Argentina!

Geller disse (no seu maravilhoso livro, Application of Chess Theory):

“Várias vezes na minha carreira, situações têm ocorrido que são conhecidas pelo nome de 'partidas gêmeas'. Este foi o caso quando no 19º Campeonato da USSR duas partidas foram jogadas, entre  Geller vs. Flohr, e Petrosian vs. Smyslov, que até certo ponto foram idênticas.

Numa das rondas do confronto de 1956 entre a USSR e a Jugoslávia, as partidas Geller vs. Karaklaijic e Averbakh vs. Ivkov coincidiram, e no torneio internacional de Budapeste em 1973 o mesmo aconteceu em Geller vs. Karpov e Host vs. Hecht.

Finalmente, o jogo presente teve simultaneamente dois 'irmãos gêmeos': Keres vs. Najdorf e Spassky vs. Pilnik —uma ocorrência única na história do xadrez! Subsequentemente recebeu o nome de 'Tragédia Argentina.'

“Em partidas gêmeas é em princípio mais vantajoso ocupar a segunda posição, uma vez que e possível introduzir correcções usando a experiência do vizinho. Infelizmente que isso nunca aconteceu: fui sempre eu que teve de ir em primeiro lugar. Por vezes isto foi provocado por um impulso de resolver os problemas da posição por mim próprio, e por vezes porque eu descobri a existência dos 'gêmeos' mais tarde do que os meus colegas.

"Por vezes eu tive de pagar pela 'precipitação' (contra Floor and Karaklaijic), enquanto que os meus vizinhos, Petrosian e Averbakh, obtiveram mais sucesso. No jogo presente, por outro lado, a prioridade foi recompensada por uma vitória mais rápida do que nas outras partidas."

Um dos "gêmeos" a que Geller se referiu foi numa ronda tardia do torneio de Gothenburg em que Keres jogou de Brancas contra Najdorf, Spassky de Brancas contra Pilnik, e Geller de Brancas contra Panno. Os jogadores Argentinos estavam deleitados uma vez que tinham a certeza de que pelo menos um dos jogadores Soviéticos iriam sucumbir à sua análise. Como acontece, TODOS os três jogadores Soviéticos entraram na armadilha de abertura!

Então o que aconteceu? A posição depois de 9...g5 apareceu em todos os três tabuleiros ao mesmo tempo, e com todos os três jogadores alcançando a posição depois de 10…Cfd7, Spassky e Keres ponderaram se deviam ou não sacrificar no lance 11, enquanto Geller executou rapidamente.
E a partir daquele momento, Spassky e Keres limitaram-se a observar o tabuleiro de Geller e copiaram tudo o que ele fez!


Aqui está o que aconteceu a Keres:

E aqui está a partida de Spassky:



Depois disto a variante passou a ser chamada a Variante de Gothenburg.

É claro, esta linha pareceu ter sido refutada e toda a gente a passou a evitar. No entanto, em 1958 o grande Svetozar Gligoric ficou chocado quando um Bobby Fischer de 15 anos (em 1985) entrou diretamente dentro da linha "refutada"! Como acontece, Fischer tinha analisado a partida de Geller exaustivamente e decidiu que 13...Th7 iria, com própria execução, conduzir a um empate forçado. Aqui está a partida:



E aqui está a partida de um grande-mestre moderno que prova, de uma vez por todas, que 13...Th7 de fato conduz a um empate excitante:



Voltando para o Gothenburg Interzonal Tournament de 1955, Bronstein (15 pontos) ficou invicto com 10 vitórias e 10 empates. Keres ficou em segundo (13,5 pontos), e Panno em terceiro (13 pontos).  4º foi Petrosian (12,5). Keller e Szabo empataram para 5º e 6º (12), e Filip, Pilnik, e Spassky empataram para 7º atravês de 9º (11 pontos). Bachman e Ilivitzki empataram para 10º e 11º (10,5). Guimard e Najdorf findaram em 12º e 13º (9,5 points). Radar e Federer empataram para 14º e 15º (9 pontos). Unzicker ficou em 16º (8,5). Stahlberg e Bisguier partilharam 17º e 18º (8.0). E Medina, Sliwa, and Donner empataram todos para 19º atravês de 21º (5,5 pontos).


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